A Psilocibina e a Depressão: Uma Nova Perspectiva no Tratamento
- Lucas da Rosa Ruhe
- 1 de jul.
- 5 min de leitura
Imagine um tratamento que, com uma única dose, pudesse aliviar anos de sofrimento causado pela depressão. Parece ficção científica, mas a ciência tem se debruçado sobre essa possibilidade, e os resultados são, no mínimo, intrigantes. Recentemente, o New York Post publicou uma matéria com a manchete "Single dose of magic mushrooms provides 5 years of depression relief" (New York Post, 2025), levantando a questão: estamos à beira de uma revolução no tratamento da depressão resistente?

Psilocibina e Depressão: Entre a Promessa e a Realidade
A notícia do New York Post, embora otimista, levanta uma questão crucial: a ciência realmente corrobora a ideia de que uma única dose de psilocibina pode oferecer cinco anos de alívio para a depressão? A pesquisa atual sobre o uso de psilocibina para depressão resistente ao tratamento (DRT) tem, de fato, mostrado resultados promissores, especialmente com uma dose única de 25 mg. Quando administrado com apoio psicológico adequado, esse composto psicodélico demonstrou reduções significativas nos sintomas depressivos em curto prazo (Goodwin et al., 2022; Salvetti et al., 2024).
Estudos como o de fase 2, que envolveu 233 participantes com DRT, revelaram que uma dose única de 25 mg de psilocibina reduziu significativamente os escores de depressão em um período de três semanas, em comparação com uma dose de controle de 1 mg. A melhora foi notável, com uma mudança média de -12,0 na pontuação da Escala de Avaliação de Depressão de Montgomery-Åsberg (MADRS) para o grupo de 25 mg (Goodwin et al., 2022). Uma revisão sistemática e meta-análise também confirmou a eficácia da psilocibina na redução dos sintomas depressivos, tanto em administrações de dose única quanto de duas doses, sugerindo que a dosagem e a frequência podem influenciar os resultados (Salvetti et al., 2024).
No entanto, é aqui que a narrativa da notícia e a evidência científica começam a divergir. Embora a resposta inicial à psilocibina seja rápida, com melhorias significativas observadas em semanas, a remissão sustentada por períodos mais longos, como os cinco anos mencionados na matéria, permanece inconclusiva. A resposta sustentada em 12 semanas não foi consistentemente alcançada nos ensaios, indicando que, embora a psilocibina possa induzir uma rápida redução nos sintomas, manter esses efeitos por um longo período ainda é um desafio (Goodwin et al., 2022). Estudos de extensão mostraram melhorias sustentadas e altas taxas de remissão em alguns casos, mas essas descobertas não são universais, ressaltando a necessidade de mais pesquisas para compreender a eficácia a longo prazo (Wang et al., 2023).
É como plantar uma semente poderosa: ela germina rapidamente e mostra um crescimento vigoroso, mas para que a planta floresça e dê frutos por anos, ela precisa de cuidado contínuo, de solo fértil e, talvez, de novas regas. A psilocibina pode ser essa semente, um catalisador para a mudança, mas a manutenção do bem-estar exige um processo mais abrangente. A ideiação ou comportamento suicida foi relatado em todos os grupos de dose, ressaltando a importância do monitoramento cuidadoso e do apoio psicológico durante o tratamento (Goodwin et al., 2022). Os efeitos psicodélicos, que podem durar até oito horas, exigem um ambiente controlado e terapeutas treinados para garantir a segurança e otimizar os resultados (Iacobucci, 2022).
O mecanismo de ação da psilocibina é fascinante: ela atua nos receptores 5-HT2A, aumentando a transmissão de glutamato, reduzindo a inflamação cerebral e diminuindo a atividade da rede de modo padrão, todos associados a melhorias nos sintomas depressivos (Wang et al., 2023; Videira et al., 2024). Isso sugere que a psilocibina não apenas alivia sintomas, mas pode promover mudanças na conectividade cerebral e na neuroplasticidade, redefinindo padrões de pensamento associados à depressão. É como se ela reorganizasse a orquestra cerebral, permitindo que novas melodias de bem-estar fossem tocadas.
Para quem vive com a depressão resistente, a esperança de um alívio duradouro é um farol. A psilocibina, nesse contexto, representa uma nova fronteira, um convite à reflexão sobre as possibilidades de tratamento que vão além das abordagens tradicionais. No entanto, é fundamental que essa esperança seja ancorada na realidade da ciência, reconhecendo tanto o potencial quanto as limitações atuais. A jornada para a remissão sustentada é complexa e individual, e a psilocibina, embora promissora, é uma peça de um quebra-cabeça maior que inclui acompanhamento terapêutico e um olhar atento para a segurança e as necessidades de cada indivíduo.
Um Caminho de Esperança e Cuidado
A promessa de um alívio duradouro para a depressão, especialmente a resistente ao tratamento, é um farol de esperança para muitos. A psilocibina, com seu potencial de induzir rápidas melhorias nos sintomas e promover mudanças cerebrais, surge como uma ferramenta promissora. No entanto, a ciência nos lembra que a remissão sustentada não é uma garantia com uma única dose, e que o acompanhamento psicológico e a atenção à segurança são indispensáveis.
A cura não é um passe de mágica, mas um processo contínuo, que exige dedicação e cuidado.
Se este tema ressoou contigo, se a busca por alívio e bem-estar é uma jornada que você tem percorrido, meu consultório está aberto para conversarmos mais a fundo sobre isso. Juntos, podemos explorar caminhos baseados em evidências, com sensibilidade, firmeza e ética, para construir um futuro com mais leveza e sentido.
Referências
Borissova, A., & Rucker, J. (2023). The development of psilocybin therapy for treatment-resistant depression: an update. BJPsych Bulletin, 1–7. https://doi.org/10.1192/bjb.2023.25
Goodwin, G. M., Aaronson, S., Alvarez, O. D., Arden, P. C., Baker, A., Bennett, J. C., Bird, C., Blom, R. E., Brennan, C., Brusch, D., Burke, L., Campbell-Coker, K., Carhart-Harris, R. L., Cattell, J., Daniel, A., DeBattista, C., Dunlop, B. W., Eisen, K., Feifel, D., … Malievskaia, E. (2022). Single-Dose Psilocybin for a Treatment-Resistant Episode of Major Depression. The New England Journal of Medicine, 387(18), 1637–1648. https://doi.org/10.1056/NEJMoa2206443
“High Dose of Psilocybin Effective for Treatment‐resistant Depression.” (2022). The Brown University Psychopharmacology Update, 34(2), 1–6. https://doi.org/10.1002/pu.30970
Iacobucci, G. (2022). Psilocybin reduces symptoms in treatment resistant depression, trial results show. BMJ, 379, o2623. https://doi.org/10.1136/bmj.o2623
Johannesdottir, A., & Sigurdsson, E. (2022). The use of psilocybin for treatment-resistant depression. Laeknabladid, 108(09), 403–410. https://doi.org/10.17992/lbl.2022.09.706
New York Post. (2025, June 24). Single dose of magic mushrooms provides 5 years of depression relief. https://nypost.com/2025/06/24/health/single-dose-of-magic-mushrooms-provides-5-years-of-depression-relief
“Psilocybin May Be Effective for Treatment-Resistant Depression.” (2022). The Pharmaceutical Journal. https://doi.org/10.1211/pj.2022.1.164911
Salvetti, G., Saccenti, D., Moro, A. S., Lamanna, J., & Ferro, M. (2024). Comparison between Single-Dose and Two-Dose Psilocybin Administration in the Treatment of Major Depression: A Systematic Review and Meta-Analysis of Current Clinical Trials. Brain Sciences, 14(8), 829. https://doi.org/10.3390/brainsci14080829
“Single-Dose Psilocybin for a Treatment-Resistant Episode of Major Depression.” (2022). 387(18), 1637–1648. https://doi.org/10.1056/nejmoa2206443
Videira, D. M. de A. B., Cicuto, B. E. C., Andrade, L. V., Esteves, L. P. A. Q., Feitosa, P. M., Mota, E. H., & Jardim, V. D. (2024). Uso de Psilocibina no tratamento da depressão resistente: uma revisão das evidências recentes. https://doi.org/10.54033/cadpedv21n9-306
Wang, S. M., Kim, S., Choi, W.-S., Lim, H. K., Woo, Y. S., Pae, C.-U., & Bahk, W.-M. (2023). Current Understanding on Psilocybin for Major Depressive Disorder: A Review Focusing on Clinical Trials. Clinical Psychopharmacology and Neuroscience : The Official Scientific Journal of the Korean College of Neuropsychopharmacology. https://doi.org/10.9758/cpn.23.1134




Comentários