Autismo no Brasil: Diagnósticos, Informação e Apoio
- Lucas da Rosa Ruhe
- 18 de jun.
- 3 min de leitura
O Censo Demográfico de 2022, divulgado pelo IBGE, revelou que 2,4 milhões de brasileiros, o equivalente a 1,2% da população, possuem diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA). A maioria são homens (1,4 milhão) e a maior prevalência se concentra em crianças de 5 a 9 anos. Há uma percepção de aumento nos diagnósticos, não apenas no Brasil, mas também em outros países como os Estados Unidos. No entanto, especialistas afirmam que esse crescimento não indica uma "epidemia" ou "hiperdiagnóstico", mas sim um maior acesso à informação e a profissionais qualificados, especialmente para casos de autismo nível 1, que antes passavam despercebidos. Estudos mostram que indivíduos com autismo nível 1 enfrentam maiores índices de ideação suicida, depressão, ansiedade e dificuldades de empregabilidade, o que reforça a importância do diagnóstico e do apoio.

A notícia do Censo Demográfico de 2022 sobre o autismo no Brasil nos convida a uma reflexão profunda sobre a forma como a sociedade compreende e lida com as condições de saúde mental. O aumento no número de diagnósticos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) pode, à primeira vista, gerar preocupação ou até mesmo ceticismo. Afinal, estamos diante de uma "epidemia" de autismo ou de um fenômeno mais complexo, que revela avanços na nossa capacidade de identificar e acolher a neurodiversidade?
Do ponto de vista da Psicologia Baseada em Evidências, a resposta pende fortemente para a segunda opção. O que observamos não é um aumento real na prevalência do autismo, mas sim uma melhoria significativa nos processos de diagnóstico e, crucialmente, um maior acesso à informação. Por muito tempo, o autismo foi associado apenas aos casos mais severos, de Nível 2 e 3, onde os comprometimentos são mais evidentes e impactam diretamente a comunicação e o comportamento. No entanto, o espectro autista é vasto e inclui o Nível 1, onde os indivíduos possuem inteligência preservada e, muitas vezes, não apresentam prejuízos na linguagem. Esses casos, antes invisíveis ou erroneamente diagnosticados como depressão ou ansiedade, agora estão sendo reconhecidos.
Essa mudança de paradigma é fundamental. O diagnóstico, como bem pontua o especialista Lucelmo Lacerda na matéria, não é uma "afirmação científica classificatória sobre o indivíduo", mas sim um "documento, de natureza clínica, produzido por profissionais especializados, acreditados pelo Estado, que tem por objetivo afirmar se um indivíduo necessita de apoio". Em outras palavras, o diagnóstico é uma ferramenta para identificar necessidades e, a partir delas, buscar o suporte adequado. Negar ou minimizar a importância desses diagnósticos tardios, especialmente no autismo Nível 1, seria ignorar o sofrimento e as dificuldades enfrentadas por essas pessoas.
Estudos científicos têm demonstrado consistentemente que, mesmo em casos de autismo Nível 1, os desafios são reais e impactam significativamente a qualidade de vida. Os índices elevados de ideação suicida, depressão e ansiedade, assim como as dificuldades na empregabilidade, são um alerta. Isso nos mostra que a neurodiversidade, embora seja uma característica natural da variação humana, pode vir acompanhada de vulnerabilidades que exigem atenção e intervenção. O diagnóstico, nesse contexto, abre portas para o acesso a terapias, adaptações e, acima de tudo, para a compreensão e aceitação. É o primeiro passo para que esses indivíduos possam desenvolver estratégias de enfrentamento, fortalecer suas habilidades sociais e emocionais, e encontrar seu lugar no mundo de forma mais plena.
O "boom" do tema nas redes sociais e consultórios, que a notícia menciona, é um reflexo positivo desse maior acesso à informação. As pessoas estão mais conscientes, mais atentas aos sinais e mais dispostas a buscar ajuda. Isso é um avanço para a saúde mental coletiva. No entanto, é crucial que essa busca seja orientada por profissionais qualificados e que o diagnóstico seja feito com rigor e ética, evitando generalizações ou modismos.
Em suma, o aumento dos diagnósticos de autismo no Brasil não é um problema, mas sim uma oportunidade. É a chance de estender a mão a uma parcela da população que, por muito tempo, viveu à margem do reconhecimento e do apoio. É um convite para que a sociedade se torne mais inclusiva, mais empática e mais preparada para acolher a diversidade humana em todas as suas formas. E para você, que talvez se identifique com algumas dessas características ou conheça alguém que se identifique, lembre-se: buscar conhecimento e apoio profissional é um ato de coragem e autocuidado. A psicologia está aqui para oferecer as ferramentas e o suporte necessários para essa jornada.
Se você ou alguém que você conhece busca compreender melhor o autismo ou outras questões relacionadas à saúde mental, considere agendar uma consulta com um profissional de psicologia. O conhecimento e o apoio adequado podem transformar vidas.
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