A infância que o concreto engole | Crítica Social
- Lucas da Rosa Ruhe
- 6 de jun.
- 2 min de leitura
Tem criança crescendo sem saber o que é um quintal. Sem saber o cheiro de mato molhado, a graça de um banho de chuva ou o gosto de fruta colhida do pé. Tem infância sendo empilhada em apartamentos, vigiada por câmeras, sufocada por telas.
E não é só sobre nostalgia. É sobre desigualdade.
Nos bairros nobres, ainda tem praça com sombra e brinquedo, parquinho com grama, escola com pátio. Mas vai nos extremos da cidade. Onde o asfalto mal chega. Onde criança brinca em esgoto a céu aberto e aprende cedo a desviar de bala. Lá, infância é artigo de luxo.

E quando a infância vira risco, ela deixa de ser infância.
A cidade que nega espaço à criança não erra por acaso — é projeto. Projeto de exclusão, de pressa, de lucro. Um sistema que prefere a segurança armada ao parquinho, o estacionamento ao campo de futebol, o shopping ao parque.
O urbanismo também é político. O lugar onde a gente vive molda o que a gente sente, pensa e sonha. E quando a cidade não acolhe, ela adoece.
Mas ainda há respiro. Uma criança correndo na calçada, pulando amarelinha com giz roubado da escola. Um pai que para tudo pra jogar bola na rua. Uma avó que planta hortelã no pote de margarina.
Esses pequenos atos são resistência.

Porque proteger a infância não é só dar tablet ou aula de inglês. É dar tempo. Espaço. Terra no pé. É garantir que toda criança — não só as das “boas famílias” — tenha direito ao lúdico, ao cuidado, à cidade.
Cuidar da infância é cuidar do futuro, sim. Mas também é cuidar do agora. E esse agora tá pedindo socorro.
Que a gente escute. E aja. Porque infância não espera. E nem deveria.




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