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Desinformação sobre Saúde Mental no TikTok: Riscos e Cuidados

  • Foto do escritor: Lucas da Rosa Ruhe
    Lucas da Rosa Ruhe
  • 10 de jul.
  • 5 min de leitura

Em um mundo cada vez mais conectado, onde a informação (e a desinformação) viaja na velocidade de um clique, plataformas como o TikTok se tornaram palcos vibrantes para discussões sobre saúde mental. Milhões de pessoas buscam ali um espaço para se identificar, aprender e encontrar apoio. Mas, como em um labirinto digital, nem tudo que reluz é ouro. A promessa de soluções rápidas e a romantização de transtornos, muitas vezes propagadas por não profissionais, levantam uma questão crucial: estamos construindo pontes para o bem-estar ou armadilhas de desinformação?


Essa é a encruzilhada da desinformação sobre saúde mental no TikTok — um fenômeno que exige atenção crítica de profissionais, usuários e da sociedade como um todo.


Recentemente, matérias em veículos como o The Times e o The Guardian trouxeram à tona essa dualidade. O The Times (2024) destacou um estudo da Universidade da Colúmbia Britânica sobre o autodiagnóstico de TDAH no TikTok, enquanto o The Guardian (2025) revelou que mais da metade dos 100 principais vídeos sobre saúde mental na plataforma contêm desinformação. Esses relatos acendem um alerta sobre a necessidade de discernimento em um ambiente onde a busca por alívio pode, paradoxalmente, levar a mais confusão e sofrimento.


Ilustração digital mostra um smartphone com a tela aberta no TikTok. No centro, ícones flutuantes representam dúvidas e desinformação — incluindo emoji confuso, ponto de interrogação e alerta amarelo. Ao fundo, uma sombra de perfil humano em tom escuro reflete confusão ou sobrecarga emocional. A paleta de cores é suave e moderna, com fundo azul acinzentado.

Desinformação sobre Saúde Mental no TikTok: Conexão ou Armadilha?


A ascensão do TikTok como fonte de informação sobre saúde mental reflete uma necessidade genuína de conexão e compreensão. Em um mundo onde o acesso a profissionais de saúde mental ainda é um privilégio para muitos, as redes sociais oferecem um espaço aparentemente democrático para compartilhar experiências e buscar conselhos. No entanto, essa liberdade vem com um custo. A desinformação sobre saúde mental nas redes sociais pode aumentar a ansiedade, o estresse e o estigma, minando a confiança em fontes confiáveis (Hudon et al., 2024).


Estudos recentes, como o que analisou 1000 vídeos do TikTok, revelam a predominância de desinformação em vários tópicos de saúde mental (Hudon et al., 2024). Essa desinformação não se limita apenas a conteúdos falsos, mas também a generalizações excessivas de experiências pessoais, o que pode levar a autodiagnósticos equivocados e à busca por soluções simplistas para problemas complexos (Starvaggi et al., 2023). Imagine uma pessoa que, ao se sentir ansiosa, assiste a um vídeo prometendo a cura em "três passos mágicos". A esperança inicial pode rapidamente se transformar em frustração e desesperança quando esses passos não funcionam, atrasando a procura por ajuda profissional adequada.


A romantização de transtornos mentais é outro fenômeno preocupante. O que começa como uma tentativa de desestigmatizar pode se transformar em uma glamorização do sofrimento, distorcendo a realidade da doença e minimizando a seriedade de condições que exigem tratamento especializado. Essa superficialidade pode levar à prorrogação da procura por um serviço de saúde mental quando necessário, pois a pessoa acredita que sua ansiedade "simplesmente sumirá" com uma dica de vídeo, ou que sua depressão é apenas uma "bad vibe" a ser superada com pensamentos positivos.


O impacto da desinformação vai além do indivíduo. A disseminação de mitos e informações erradas sobre saúde, incluindo tópicos de saúde mental, é uma preocupação significativa nas mídias sociais (Tang et al., 2024). Durante a pandemia de COVID-19, por exemplo, a desinformação nas redes sociais exacerbou a ansiedade, particularmente entre grupos vulneráveis, e impactou negativamente a saúde psicológica, contribuindo para o aumento dos níveis de ansiedade, depressão e estresse (Verma et al., 2022; Islam et al., 2024). Isso demonstra como a desinformação sobre saúde mental no TikTok e em outras plataformas pode ter custos reais e tangíveis para a saúde mental coletiva.


É crucial que, como profissionais de saúde mental, combatamos ativamente essa maré de desinformação. Isso exige transparência, apresentação imediata de informações baseadas em evidências e clareza na comunicação (Tang et al., 2024). A educação do público sobre como identificar fontes confiáveis e a importância de buscar ajuda profissional qualificada são passos fundamentais. A internet é um oceano vasto; precisamos ensinar as pessoas a navegar, a distinguir as águas calmas das tempestades, e a procurar o porto seguro quando a correnteza se torna forte demais. A saúde mental não é um roteiro de três passos, mas uma jornada que exige cuidado, paciência e, acima de tudo, a orientação de quem realmente entende do caminho.


Navegando com Discernimento no Mar Digital


O TikTok, e as redes sociais em geral, são ferramentas poderosas. Podem ser um espaço de conexão, apoio e busca por conhecimento, mas também um terreno fértil para a desinformação. A saúde mental é um tema complexo, que exige cuidado, nuance e, acima de tudo, embasamento científico. A busca por soluções rápidas e a romantização de transtornos, impulsionadas por conteúdos genéricos e não profissionais, podem atrasar o acesso a tratamentos eficazes e gerar mais sofrimento.


A desinformação sobre saúde mental no TikTok não é apenas um ruído digital — é um desafio clínico, social e ético.


É fundamental que, como indivíduos e como sociedade, desenvolvamos um senso crítico apurado para navegar nesse mar digital. Questionar a fonte, buscar informações em veículos confiáveis e, principalmente, procurar a orientação de profissionais qualificados são atitudes essenciais para proteger nossa saúde mental. Lembre-se: sua saúde mental é um tesouro que merece ser cuidado com a seriedade e o profissionalismo que ela exige.


Se você se sente perdido(a) nesse labirinto de informações, ou se a busca por bem-estar tem sido um desafio, saiba que não precisa trilhar esse caminho sozinho(a). Meu espaço de atendimento online está aberto para conversarmos mais a fundo sobre suas necessidades, com a sensibilidade, firmeza e ética que você merece. Juntos, podemos construir um caminho de cuidado e autoconhecimento, baseado em evidências e no respeito à sua individualidade.



Referências:


Hudon, A., Perry, K., Plate, A.-S., Doucet, A., Ducharme, L. J., Djona, O., Testart Aguirre, C., & Evoy, G. (2024). Navigating the Maze of Social Media Disinformation on Psychiatric Illness and Charting Paths to Reliable Information for Mental Health Professionals : An Observational Analysis (Preprint). https://doi.org/10.2196/preprints.64225


Islam, A. F. M. M., Ahmed, K. T., Raihan, Md. A., Ahmed, T., Hossain, Md. S., Eshad, Md. K. A., Mahmud, Md. H., Shill, P. K., Islam, S., & Siraj, M. A. (2024). COVID-19’s myths, facts, concerning and obstinate posts on social network, and the mental health status of social network users in Bangladesh. 1(1), e0000014. https://doi.org/10.1371/journal.pmen.0000014


Jabbour, D., El Masri, J., Nawfal, R., Malaeb, D., & Salameh, P. (2022). Social media medical misinformation: impact on mental health and vaccination decision among university students. Irish Journal of Medical Science, 192(1), 291–301. https://doi.org/10.1007/s11845-022-02936-9


Starvaggi, I., Dierckman, C., & Lorenzo-Luaces, L. (2023). Mental health misinformation on social media: Review and future directions. Current Opinion in Psychology. https://doi.org/10.1016/j.copsyc.2023.101738


Starvaggi, I., Dierckman, C., & Lorenzo‐Luaces, L. (2023). Mental health misinformation on social media: Review and future directions. https://doi.org/10.31234/osf.io/nt85m


Tang, H., Lenzini, G., Greiff, S., Rohles, B., & Sergeeva, A. (2024). “Who Knows? Maybe it Really Works”: Analysing Users’ Perceptions of Health Misinformation on Social Media. https://doi.org/10.1145/3643834.3661510


The Guardian. (2025, May 31). More than half of top 100 mental health TikToks contain misinformation, study finds. https://www.theguardian.com/society/2025/may/31/more-than-half-of-top-100-mental-health-tiktoks-contain-misinformation-study-finds?utm_source=chatgpt.com



Verma, G., Bhardwaj, A., Aledavood, T., De Choudhury, M., & Kumar, S. (2022). Examining the impact of sharing COVID-19 misinformation online on mental health. Dental Science Reports, 12(1). https://doi.org/10.1038/s41598-022-11488-y

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